Alcobaça é o segundo Concelho mais populoso da Região Oeste, com 55.376 habitantes, sendo Torres Vedras o concelho que evidencia maior população. Com uma área total de 406,9km, Alcobaça apresentava uma densidade populacional média de 136,2 habitantes/km em 2001.
Com base nos dados dos Censos 2001, o Concelho de Alcobaça apresenta cinco núcleos populacionais principais: Alcobaça, Benedita, Évora de Alcobaça, Pataias e Turquel, com uma população residente entre os 4000 e os 8500 habitantes. Existem duas freguesias com uma população claramente mais reduzida: Montes e Alpedriz, que não atingem os 1000 habitantes, situando-se as restantes entre estas duas realidades.
Existe um certo equilíbrio entre a população jovem e a população idosa, no entanto, este tenderá a esbater-se com o aumento da população idosa previsto para as próximas décadas (fruto do aumento da esperança de vida) e transformar Alcobaça num concelho envelhecido
Pouco mais de 65% da população do concelho de Alcobaça não atingiu a escolaridade mínima obrigatória. Assim, apenas cerca de 15% ultrapassaram esse nível de instrução. Destas, cerca 65% concluiu o ensino médio e apenas as restantes concluíram o ensino superior. O analfabetismo passou de 13,7% (1991) a 10.3% (2001).22
Alcobaça representa 16,8% da população activa da Região Oeste e 17,1 % da sua população activa empregada, ocupando assim o segundo lugar dentro da Região.
Cerca de 4,2% dos activos empregados trabalham no sector primário, 68,4% no sector secundário e 27,4% no sector terciário.
Na Região Oeste, entre 1991 e 2001 observou-se uma diminuição acentuada da proporção da população activa no sector primário, uma diminuição menor no secundário e um aumento significativo no sector terciário. O concelho de Alcobaça é o que observa a menor diminuição da população activa agrícola, a maior diminuição da população activa nas indústrias e o maior aumento da população que trabalha no comércio e serviços.
A População Agrícola Familiar do Concelho de Alcobaça era constituída, em 1999, por 9.627 indivíduos, dos quais 3.097 eram produtores, 2.787 cônjuges e 3.743 os restantes membros do agregado familiar.
A classe dos produtores é uma população envelhecida, em que 62% tem idade igualou superior a 55 anos. É também uma classe com um nível de instrução muito baixo, uma vez que 26% não tem qualquer tipo de instrução, e 71 % tem apenas um nível de instrução básico.
De acordo com o Recenseamento Geral Agrícola do Ribatejo e Oeste de 1999, a estrutura de produção agrícola do concelho de Alcobaça apresenta a seguinte forma:
Em Alcobaça e freguesias limítrofes, as actividades económicas predominantes são a indústria de cerâmica, nomeadamente, as porcelanas, faianças e olaria de barro, e a indústria do vidro, sendo de salientar os cristais Atlantis.
Nas freguesias Benedita - Turquel, a actividade económica concentra-se na indústria do calçado, cutelaria e marroquinaria.
Em Pataias - Martingança, as actividades predominantes são a indústria de moldes e dos móveis, destacando-se ainda a produção de cimentos em Martingança (Secil).
Outro eixo de grande desenvolvimento é o de Alfeizerão - São Martinho do Porto, sendo a actividade predominante nesta área do concelho o Turismo, Comércio e ainda a Agricultura, embora se tenha registado um abandono claro nas últimas décadas dos produtores de pequena e média dimensão.
Recentemente, têm-se ainda assistido ao desenvolvimento da exploração de pedreiras na Serra dos Candeeiros.
Com base nos dados do Anuário Estatístico da Região Centro, no final de 2005 as microempresas (até 9 indivíduos) empregavam 30% dos trabalhadores do concelho. Sendo que 66% laborava em empresas com menos de 50 pessoas.
As empresas do concelho empregam, na sua maioria, trabalhadores com habilitações ao nível do 1° e 2° ciclos (56% das empresas), existindo uma reduzida percentagem de empresas com trabalhadores com conhecimentos inferiores ao 1 ° ciclo apenas ou com bacharelato (1,8% e 1,5% respectivamente). Já as empresas que contam com o trabalho de licenciados chegam aos 5%.
A acção colonizadora dos monges cistercienses, ao criarem uma região agrícola rica em práticas inovadoras, fez com que a Agricultura se desenvolvesse de forma a constituir a base da economia desta zona.
Hoje, o sector primário continua a ser uma actividade de relevo, com especial incidência sobre a produção animal e fruticultura de maçã, pêra e pêssego.
A criação de grandes cooperativas frutícolas e o desenvolvimento de projectos conjuntos entre produtores, como é exemplo a criação da marca "Maçã de Alcobaça", são factores que revelam um forte investimento neste sector.
A vitivinicultura é também uma das actividades principais. O concelho faz parte da região demarcada Vinho de Alcobaça.
De referir que Alcobaça é o maior produtor nacional de suínos e compostos de animais.
Na pecuária, têm alguma importância a bovinicultora (0,4% do efectivo nacional em 1999), a avicultura (0,4%) e a cunicultura (3%). Mas a exploração mais significativa é a suinicultura. Alcobaça detém 1.482 explorações que representam 28% das explorações do Oeste.
A Agricultura do Concelho de Alcobaça aproveita solos e clima de grande aptidão, beneficiando ainda da sua proximidade geográfica com a cidade de Lisboa. De acordo com a Figura 18, as actividades agrícolas do Concelho utilizam 70% (10.032 hectares) do território. 43% da área total da SAU é arável.
Utilização das Terras, Alcobaça 1999 (unidade: ha)
Área |
|
Superfície Total Agrícola |
14.478 |
1. Superfície Agrícola Utilizada (SAU) |
10.032 |
1.1 Terra arável |
4.317 |
Terra arável limpa |
4.280 |
Culturas temporárias |
3.628 |
Pousio (com e sem ajuda) |
559 |
Horta familiar |
94 |
Culturas sob-coberto de matas e florestas |
36 |
Culturas temporárias |
23 |
Pousio (com e sem ajuda) |
12 |
1.2 Culturas permanentes |
5.057 |
Sem culturas sob-coberto |
4.869 |
Com culturas temporárias |
138 |
Com pousio (com e sem ajuda) |
|
Com horta familiar |
3 |
Com pastagens permanentes |
45 |
1.3 Pastagens permanentes |
657 |
Em terra limpa |
612 |
Sob-coberto de matas e florestas |
46 |
2 Matas e florestas sem culturas sob-coberto |
2.917 |
3 Superfície Agrícola não utilizada |
778 |
4 Outras culturas |
755 |
Fonte: INE, Recenseamento da Agricultura, 1999
Assim, de acordo com a Figura 18, constata-se que as culturas permanentes representam 50% da SAU de Alcobaça mas existiam 778 hectares de Superfície Agrícola não Utilizada.
No Concelho predominam os produtores individuais com 8.064 hectares de SAU (apesar da existência de 50 explorações em forma de sociedade) e concentra 15,3% dos tractores do Distrito.
Em 1999, a população agrícola familiar era de 9627 pessoas, mas somente 630 indivíduos exerciam a tempo inteiro. Ou seja, para mais de 93% da população agrícola a actividade no campo é complementar não deixando, no entanto, de ser uma das principais formas de subsistência.
O concelho de Alcobaça tem 3.150 explorações agrícolas, ocupando uma área de 14.478 hectares. No que se refere à natureza jurídica das entidades exploradoras, a esmagadora maioria são produtores singulares autónomos (95%), enquanto os produtores singulares empresários têm a seu cargo 3% das explorações, e as sociedades 2%. No entanto, deve-se realçar que nos dois últimos casos, a área média por exploração é muito superior à das explorações de produtores singulares autónomos (4 hectares/exploração), sendo 17 e 25 hectares/exploração a área média das explorações de produtores singulares empresários e sociedades, respectivamente. Neste concelho, 98% das explorações são por conta própria, tendo o arrendamento e outras formas de exploração uma representatividade muito reduzida. A superfície irrigável abrange uma área de 3.946 hectares, distribuídos por 1.432 explorações. Do total das explorações existentes, 54% dedicam-se à produção de frutos frescos, correspondendo a 39% da superfície. A produção de maçã e de pêra Rocha são as culturas dominantes.
No Litoral Centro Sul do Concelho (Freguesias de Alfeizerão, São Martinho do Porto, Cela, Bárrio e Maiorga) a predominância de culturas arvenses e horticultura intensiva associada à fruticultura (pereira e macieiras) caracterizam a região. Ainda juntamente com as Freguesias do Vimeiro, Évora de Alcobaça, Vestiaria, Cós, Montes e Alpedriz, os pomares de frutos frescos e as vinhas representam explorações consideráveis.
As vinhas e os pomares de frutos frescos estão constituem também as explorações agrícolas das freguesias da Benedita, Turquel, Aljubarrota/Prazeres, Aljubarrota/São Vicente e parte de Évora, mas a cultura mais expressiva é o olival. A produção pecuária é bem desenvolvida com destaque para a suinicultura, a avicultura, a cunicultura e em menor escala a bovinicultora.
As freguesias do Norte (Pataias e Martingança) não têm praticamente agricultura mas apresentam uma área considerável de floresta.
A Agricultura tem maior expressão em Évora de Alcobaça, Cela, Turquel, Alfeizerão e Vimeiro. A actividade pecuária tem mais relevância em Turquel, Benedita, Évora de Alcobaça, Alfeizerão, Cela, Vimeiro e Aljubarrota.
A população que trabalha a tempo inteiro no sector primário não atinge os 10% da população agrícola em nenhuma das freguesias.
As freguesias com maior volume de emprego na agricultura e pecuária são as de Alcobaça, Alfeizerão, Évora de Alcobaça, Turquel, Benedita, Cela, Vimeiro e as duas freguesias de Aljubarrota.
As freguesias mais importantes quanto ao número de empresas agrícolas são Turquel, Benedita, Alfeizerão, Évora de Alcobaça, Vimeiro e Alcobaça (13 empresas).
A vinha foi a cultura que predominou em Alcobaça durante vários anos mas, posteriormente, houve uma transição para pomares. Em 1972, o Estado desenvolveu um plano que auxiliou o desenvolvimento da fruticultura e, ao longo dos anos, a pêra e a maçã adquiriram mais expressão sobre as outras culturas por apresentarem melhor capacidade de conservação. A Região dispunha então de um património agrário extremamente rico, valorizado por uma tradição ligada à lavoura que passou de geração em geração.
Os pomares evoluíram, deixando de se tratar de sequeiros e com uma grande distância entre as árvores. A partir de 1990, a rega proporcionou que a distância entre árvores fosse menor, aumentando a produção por hectare, passando de 6/8 ton/ha para 30/40 ton/ha. A longevidade dos pomares também se alterou: antigamente plantavam-se pomares para se obterem rendimentos dois ou três anos mais tarde, mas actualmente obtêm-se os rendimentos no ano seguinte à plantação.
Com o desenvolvimento do mercado económico, surgiram problemas de comercialização que tiveram por consequência a criação de entidades destinadas ao comércio e, com a aparição destas entidades, a própria organização da agricultura também se alterou, uma vez que os grandes produtores tinham suficiente capacidade para distribuir a produção, mas os pequenos produtores encontravam dificuldades para chegar ao consumidor, vendendo a fruta aos grandes produtores com preços estabelecidos pelos compradores. Assim, surgiram movimentos de pequenos produtores que acabaram na criação de Associações ou Organizações de Produtores (OP) sob a forma de Cooperativas.
O mercado regia-se, então, por parâmetros diferentes dos actuais e sofreu alterações profundas. A preocupação era produzir grandes quantidades de fruta. Actualmente, a dificuldade é produzir com qualidade e conseguir vender a produção.
Antigamente, a fruticultura passava 5 meses sem fornecer os mercados. A preocupação era ajustar o ciclo de produção para reduzir este tempo. Com a globalização as frutas do hemisfério sul inundaram o mercado nacional, levando os agricultores a abandonar as frutas que produziam mais cedo e/ou mais tarde por não terem tanta qualidade como as frutas estrangeiras. Como consequência destes factores, os sistemas de produção tiveram que alterar e desencadeou-se uma competição ao nível dos preços.
Nos últimos trinta/quarenta anos a agricultura teve que acompanhar as modificações da sociedade que motivaram a modernização da agricultura.
A grande modificação foi essencialmente na abordagem ao mercado. Há vinte anos apareceram entidades que davam apoio aos agricultores e, mais tarde, surgiram as entidades que procediam à distribuição. As consequências levaram à especialização na produção de 1 ou 2 produtos (raramente o agricultor cultiva uma variedade de produtos) e na diminuição das explorações devido ao aumento do abandono da lavoura por parte dos agricultores.
Actualmente os agricultores enfrentam várias dificuldades no sector. A escassez dos recursos hídricos é o maior contratempo sofrido. O agravamento da escassez da água leva cada vez mais agricultores a recorrer ao aprofundamento de furos, obtendo-se uma água de baixa qualidade. Além disso, a falta de infra-estruturas com sistemas de recuperação da água das chuvas dificulta o atenuar da situação.
As Cooperativas enfrentam igualmente problemas: tanto a existência de muitos pequenos produtores com entrega de pequenas produções, que tomam difícil assegurar a qualidade e homogeneidade dos produtos, como o aumento na procura de novas variedades dificultam o processo de comercialização.
A finalidade dos agricultores actualmente é produzir o que o consumidor pretende. Esta situação poderá levar ao desaparecimento dos pequenos produtores e à especialização dos médios/grandes produtores, tomando- se mais competitivos e com maior produção por hectare. A diminuição do número de produtores terá um efeito positivo sobre o custo dos factores de produção, sobre a rentabilidade e a relação com o meio ambiente.
Por outro lado, está prevista a construção de novas barragens a nível nacional (nos rios Tua, Mondego, Tâmega e Tejo) o que vai resolver, em parte, o problema da escassez de água e contribuir para uma maior competitividade e aumento da produção.
É importante notar que a agricultura regional e nacional só consegue competir ao nível de qualidade. Os concorrentes europeus e mundiais, por terem estruturas de produção financiadas pelo Estado, competem ao nível da quantidade produzida. Esta qualidade dos produtos hortofrutícolas aumentou significativamente, acompanhando-se as exigências do mercado. Hoje em dia, a fruta está à disposição do consumidor nas grandes superfícies comerciais, o que obriga os agricultores a organizarem-se e a produzir com qualidade para poder vender as suas produções.
A União Europeia provocou um impacto significativo na agricultura portuguesa ao nível da mão-de-obra. A maioria dos portugueses não está particularmente interessada na agricultura e procuram outros mercados de trabalho. A mão-de-obra na agricultura é, cada vez mais, constituída por cidadãos estrangeiros. Trata-se de uma ironia, pois este comportamento dos portugueses é só em relação à agricultura nacional, uma vez que participam na vindima ou na apanha da fruta em Espanha ou na França (onde o nível salarial é superior). Hoje em dia os custos ligados a mão-de- obra representam 60% dos custos totais. O futuro passa por uma mecanização intensa da agricultura.
A entrada na UE permitiu a evolução e modernização da agricultura na Europa, especialmente em Portugal, aos níveis tecnológico, qualidade de produto e quantidade produzida. A fruticultura era lucrativa há uma década atrás devido aos reduzidos custos mas hoje é lucrativa devido ao aumento de conhecimentos e da qualidade dos produtos.
A nível europeu, Portugal é obrigado a produzir sob regras restritas, enquanto os países africanos, asiáticos e sul-americanos não têm que respeitar essas regras. Como consequência, os produtos portugueses são mais caros e com menos competitivos. Isto, associado a outros factores como o apoio crescente à indústria (descurando a agricultura), a desmotivação do sector e a estrutura agrícola europeia ainda desorganizada, provoca a diminuição não só da produção agrícola, como também do número de produtores/explorações.
A situação agrícola actual sofre com o desinteresse da população mais jovem em dedicar-se à lavoura e com o envelhecimento dos agricultores sem geração seguinte para cuidar das suas explorações no futuro. No entanto, nos últimos anos, devido à reduzida oferta de emprego nos outros sectores de actividade, a agricultura começa a renovar-se sendo ainda possível que, dentro de alguns anos, a situação económica da agricultura no Concelho reviva a elevada importância que representou no passado.
Existe também uma enorme necessidade de apelar ao espírito empreendedor dos agricultores. Até há alguns anos atrás, a prioridade era produzir o máximo possível, negligenciando a qualidade da produção. Hoje, com a abertura das fronteiras, o desafio passou a ser de vender a produção de qualidade.
A Fruticultura tem uma forte expressão no Concelho e é a actividade agrícola mais rentável, esperando-se um aumento no futuro. A sua evolução passará pela diminuição dos fruticultores, que vai ter por consequências um aumento das dimensões dos terrenos, um aumento da produção e da qualidade e mais organização dos agricultores que, cada vez mais, se associam para conseguir vender nas grandes superfícies.
Texto retirado de "Estruturas de Apoio à Agricultura da Região de Alcobaça", Vicent Huck (2007).